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É conhecida, pelos visitantes deste bolg, a minha posição face à aposta, cega e desprovida de qualquer estudo que a sustente, da nossa Presidente de Câmara no Turismo como “tábua de salvação” para o concelho de Silves. A indústria turística está a mudar a um ritmo alucinante e copiar para Silves as mesmas estratégias que outros concelhos já “enterraram” é de uma irresponsabilidade total. Em última análise obteremos os mesmos resultados que os outros e teremos perdido tempo.

Na opinião de muitos especialistas o futuro do sector turístico sofrerá profundas alterações nos próximos anos. As motivações para viajar e os destinos escolhidos serão totalmente diferentes daqui a 20 anos. As questões que se prendem com as movimentações de pessoas e bens estão, em conjunto com as questões ambientais, no topo das causas da mudança que ai vem. Será mais caro viajar e ao mesmo tempo as novas gerações estarão menos motivadas para atravessar continentes e oceanos em busca de novidades… de contrastes. Até porque a globalização galopante se encarregará de esfumar os contrastes entre regiões e países.

À medida que os países emergentes se afirmam, desaparecem (ou ser-lhes-ão retiradas) também algumas das vantagens que antes tinham pela via da mão-de-obra barata, taxa cambial e politica alfandegária. Em breve a diferença de preço de uma melancia vinda do Brasil deixará de compensar a falta de qualidade que implica ter que colhê-la semanas antes para que chegue aos supermercados ainda em condições. O duo Merkel/Sarkozy irá no curto prazo taxar as importações vindas de fora da União Europeia, numa medida inevitável para salvar o tecido industrial alemão e francês. O petróleo irá subir de novo até valores insuportáveis mal os primeiros sinais de retoma sejam farejados pelos investidores. Por essa altura a terra e o sector primário voltarão a fazer sentido na Europa.

O concelho de Silves é um grande concelho. Na sua imensidão consegue ter a maior área agrícola do Algarve e uma das maiores áreas florestais. É para mim um mistério perceber porque raio ninguém vê isto?! Permitir que se estraguem, por via da especulação imobiliária disfarçada de turismo, os melhores terrenos do Algarve e esquecer a serra e o seu potencial de florestação são dois erros que pagaremos bem caro no futuro. O que se conseguiu foi criar uma perspectiva de lucro imediato que fez com que muitos produtores virassem especuladores e contribuiu para que se arruinasse, em alguns casos de forma irremediável, a maior fonte de riqueza que este concelho tem: o seu território e as suas gentes por definição trabalhadoras, humildes e empreendedoras.

A alternativa futura a este PSD que “desgoverna” Silves há tanto tempo tem que apostar claramente nessa mudança. Valorizar o trabalho e os produtos que deste concelho brotam terá que ser imperativo para que a esperança volte a assomar e para que voltemos a sentir que o futuro está nas nossas mãos, e não dependente do preço do petróleo, de um vulcão na Islândia ou de uma crise financeira motivada pela ganância e falta de escrúpulos de gente que nem conhecemos.

A estratégia terá que passar pela adopção de políticas que permitam conciliar proprietários de terrenos no objectivo comum de valorizar as suas terras de forma sustentada. Quer sejam terrenos para floresta ou agricultura o importante é que sejam utilizados para produzir riqueza e trabalho. Não me venham dizer que é impossível. Ainda temos (infelizmente) alguma vantagem pela via da mão-de-obra e a cada dia que passa a nossa condição periférica acrescenta alguns cêntimos às importações de produtos que fazemos. Além disso a qualidade dos nossos produtos não tem paralelo. Comparem os citrinos do Chile, o melão do Brasil, a romã de Israel ou o tomate de Espanha com os mesmos produtos vindos do nosso concelho e concluam que o investimento valerá a pena no curto prazo.

Os passos dados por Rui Virgínia, e por outros desta região, no sector vinícola são um belo exemplo do que deve ser feito. Tem toda a lógica que o Algarve produza vinhos de excelência. Temos bons solos, arenosos ou xistosos, e um clima fantástico faltava apenas que alguém com visão e qualidades de empresário deitasse mãos à obra. A nível nacional podemos também olhar para o sector do azeite. Foi preciso que os espanhóis desatassem a comprar hectares de olival no Alentejo para que passássemos a acreditar que também nós poderíamos ter uma palavra a dizer nesse mercado. Hoje Portugal caminha para uma produção que excede o consumo e exporta o triplo que há dez anos. E eu que os ouvia dizer ainda não há muito tempo: “não temos hipóteses! Mais oliveiras tem Espanha entre Sevilha e Córdoba do que Portugal inteiro.”

Deixamos cair por terra o “Silves - Capital do Citrino”, resignados às divisões, tricas e desinteresse entre produtores que este executivo camarário nunca soube entender nem resolver. A Festa da Laranja, para a qual se construiu a FISSUL, ficou esquecida no baú enquanto nos paços do concelho se sonhava com hotéis, golfes, centros comerciais e serviços… muitos serviços. Criou-se nas pessoas a ilusão do lucro fácil. Vender o terreno das laranjeiras para fazer um golfe passou a ser desporto local. Pagar a um arquitecto para obter uma viabilidade de construção a médio prazo passou a ser mais rentável do que apanhar as laranjas das árvores. Os agricultores viraram construtores, “patos-bravos” ou investidores, muitas vezes financiados e montados em verbas ou fundos comunitários destinados… à agricultura. Eram um exemplo de sucesso invejado por todos mas que em nada contribuíam para que Silves fosse mais rico.

Em cumplicidade com os concelhos vizinhos, e reconheço que muitas vezes nada havia a fazer, deixamos que a proliferação relâmpago de grandes superfícies e espaços comerciais assassinasse o comércio local. Cercados por todos os lados, desde o preço baixo da moderna distribuição até ao excesso de zelo da ASAE, deixamos que os mercados municipais, as mercearias e pequenos negócios começassem a comprar os produtos na Makro ou no Recheio e com isso afastamos de cena os poucos resistentes que ainda conseguiam encontrar compensação financeira na venda de produtos próprios. Retiramos os empregos das vilas e aldeias e levamo-los, a troco do ordenado mínimo, para a beira da EN 125 ou para o centro das cidades do litoral. Deixamos para trás os velhos, que já não encontravam forças para começar tudo de novo, e os sonhadores que esperavam que a coisa fosse passageira. Hoje os velhos começam a morrer e os sonhadores a falir… em breve nem uns nem outros estarão por cá.

Ficaremos poucos e abandonados a ver a obsessão pelo turismo corroer toda e qualquer esperança de inverter as coisas. Como diz um amigo meu “ficaremos à espera que o próximo Tsunami empurre novamente as pessoas para os seus devidos lugares.”

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10 comentários

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De ccor a 23.04.2010 às 12:20

Tem toda a razão, caro anónimo.

Sou tão estúpido e, já agora, comunista, que não me lembrei que com o avanço do mundo, chegará o dia em que não precisaremos de comer.

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