“Presidir a uma autarquia?! Oh, isso é fácil! Eu se me candidatasse punha isto na ordem em menos de nada.” – são comentários como estes que me apoquentam. Saberão estes senhores o trabalho que dá ser o “símbolo” maior de um concelho! Ser, ao mesmo tempo, exemplo para as “criancinhas”, referência para os adultos e motivo de orgulho para os idosos… Ah pois! Fácil, meus amigos, é fazer linguiças. Basta tirar a tripa de dentro do porco e depois meter o porco dentro da tripa.
Movido por esta minha ânsia de provar que é árduo o trabalho de edil camarário mergulhei nas malhas da “World Wide Web” e encontrei material que sustenta a minha tese. Depois do que vão ler a seguir espero nunca mais ouvir comentários “foleiros” sobre a “boa vida” dessas verdadeiras instituições nacionais que são os presidentes de câmara.
Pensei eu que não havia melhor forma de aferir o desempenho de um autarca do que analisar as suas responsabilidades. Em boa verdade eles são os responsáveis por tudo o que, directa ou indirectamente, diga respeito à autarquia mas, dizem alguns especialistas, a delegação de poderes alivia-lhes a “carga” ao mesmo tempo que garante aos munícipes maior celeridade e disponibilidade para a resolução dos seus problemas.
Analisar essa distribuição de poderes pode ser um exercício interessante e como o que se pretende analisar são os presidentes de Câmara iremos focar as atenções sobre os pelouros que acumulam. O método é simples: cada pelouro corresponde a uma hora de trabalho no dia-a-dia de cada autarca. Olhamos para o exemplo do Algarve e concluímos que, por exemplo, o Presidente Desidério Silva ocupa toda a manhã e duas horas da tarde com os seus seis pelouros (talvez assim se explique o tempo que lhe sobra para dinamizar a cidade e o concelho). Olhando para Portimão e Lagoa descobrimos que tanto o Presidente Manuel da Luz como o seu homólogo José Inácio Eduardo gastam mais uma hora por dia que o anterior com os seus sete pelouros. Se pularmos para Loulé encontramos o Presidente Seruca Emídio que paga o “preço” de liderar o concelho mais “pujante” do Algarve e dedica aos seus pelouros 8 horas por dia. Diga-se que, das mais de 60 câmaras municipais que analisei, o número oito é o mais comum no que diz respeito a pelouros acumulados pelos presidentes.
E eis que chegamos a Silves, o concelho que demonstra a todos os outros o que é ter um presidente que “trabalha”. A uma hora diária por pelouro, de acordo com o Web-site da Câmara Municipal de Silves, a Presidente Isabel Soares dedica “27 horas por dia” aos seus “deveres”. Isto sim é esforço e dedicação, isto sim é “esfolar o coiro” pelo concelho. Já sei que vão aparecer por ai uns “energúmenos” a dizer que “Ah e tal, e coiso… quer controlar tudo… e tal, e coiso… açambarca os pelouros todos… e tal… tem os Vereadores a “part-time”… e coiso… o dia só tem 24 horas… e blá, e blá…”. Balelas! O dia tem as horas que o “presidente” quiser e a prová-lo temos Hugo Chavez que, ainda não faz um ano, criou um novo fuso horário.
Modernices! Noutros tempos, que não conheci mas que investiguei, o “Dr. Oliveira” dava conta de tudo, ressalvando que nessa altura ainda tínhamos as províncias ultramarinas. Desde a farda da mulher-a-dias às relações com os EUA, desde a adjudicação das obras da casa de banho à renúncia do Plano Marshall… tudo era assinado pelo “mesmo punho”, como convinha à manutenção das “coisas no sítio”. O que este país precisa é de “malta” assim – “rija e tesa” – que tome as decisões e que ponha e disponha deixando de lado essas “mariquices” de reuniões para aqui, reuniões para ali, este diz que sim, aquele diz que não, o ambiente isto, o ecossistema aquilo, este faz mais caro, este faz mais barato… coisas que só nos fazem perder tempo… tempo que quem tem 27 pelouros não pode, obviamente, desperdiçar.
Hoje fico-me por aqui. Para que não digam que não aprenderam nada aqui fica uma boa definição de “Ironia”: A ironia é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos.
In. Terra Ruiva - Setembro de 2008