Recentemente um amigo disse-me: “Perdeste pá! O PS não vai apoiar Carneiro Jacinto e isso quer dizer que ele sozinho não vai ganhar e que Isabel Soares vai ficar mais 4 anos à frente da Câmara.” Respondi-lhe que sim, perdi. Perdi a motivação para continuar a acreditar neste concelho… apenas isso, porque quem ficou realmente a perder com esta situação foi o concelho de Silves e as suas gentes.
Pessoalmente, e correndo o risco de parecer egoísta, nada perdi. Vivo em Albufeira há quase 4 anos e por lá vou continuar muitos mais. Lá há empregos, oportunidades, competitividade, dinâmica, justiça e gente séria em quantidade. O meu filho tem bons jardins-de-infância e terá boas escolas no futuro (onde não falta papel higiénico, água e materiais escolares). Tem parques para brincar em segurança, infra-estruturas de toda a espécie, locais para praticar desporto e uma rede de transportes eficiente e moderna. Lá os clubes e associações são apoiados pela Câmara e cumprem o seu importante papel junto da sociedade. Lá a Câmara não persegue as empresas e demonstra que o seu compromisso é ajudá-las a crescer. Lá as estradas são de qualidade e a câmara faz as “rotundas” que tem que fazer para poupar as vidas dos seus cidadãos. Lá o planeamento urbanístico existe e a vontade de reparar erros do passado também. Lá sentimos que fazemos parte do Mundo e que avançamos ao seu ritmo. Lá ouvem-se as pessoas independentemente da sua cor política.
Quando olho para o estado em que está Messines (e Armação de Pêra… e Algoz… e Tunes… e Alcantarilha… e Pêra…) apetece-me chorar. A terra onde se nasce, que é mãe também segundo João de Deus, fica-nos nos coração e neste caso quem mais perde são os que nela vivem… perdem mais 4 anos, e 4 anos são muito tempo quando somados aos que já se perderam. Grande parte dos messinenses concorda que esta tem sido uma gestão camarária madrasta para a freguesia, uma gestão que serve “selectivamente” os munícipes, que impõe as suas regras sem ouvir as pessoas e que conseguiu “boicotar” toda e qualquer iniciativa de desenvolvimento da vila. Essa mesma grande parte dos messinenses não irá votar nas próximas autárquicas porque também sabe que escolher entre a Dra. Isabel Soares e a Dra. Lisete Romão é uma tarefa no mínimo ingrata. Muitos pensarão que “sai mais barato” e faz menos estragos manter quem “já tem a barriga cheia”. Apenas os ingénuos acreditarão que alguma coisa mudará.
Carneiro Jacinto, durante muito tempo tido como a alternativa à Dra. Lisete Romão, foi afastado por uma sondagem. Uma sondagem que na prática, tendo em conta o nível de confiança e a margem de erro, dava um empate técnico entre ele e a Dra. Lisete Romão e que levou, com base numas décimas, os sempre “argutos” dirigentes da concelhia a concluir que os “silvenses queriam” a Dra. Lisete Romão para candidata. Uma conclusão que demonstra a “dedicação” ao partido e ao concelho dos ditos dirigentes ao considerarem que quando um candidato que vive em Silves há mais de 50 anos (e que já por duas vezes se apresentou a escrutínio pelas listas do PS) empata tecnicamente com outro que, apesar de cá ter raízes, vive em Silves há somente dois anos (e ainda não teve a oportunidade de se dar a conhecer decentemente às massas) avança para a corrida autárquica o primeiro, ou a primeira neste caso. Coisas que só não me espantam por virem de onde vêm.
A diferença real das “duas candidaturas a candidatos” é bastante maior e favorecia claramente Carneiro Jacinto. Enquanto no núcleo da Dra. Lisete Romão se discutia a forma de manter o “tacho” e de assegurar que nada mudava, na candidatura de Carneiro Jacinto discutiam-se os problemas das pessoas e ideias para trazer este concelho à “tona”. Enquanto no PS Silves se faziam contactos no sentido de influenciar as decisões das estruturas superiores do partido a manter tudo na mesma, na candidatura de Carneiro Jacinto formava-se uma equipa de pessoas desinteressadas – muitas delas apartidárias – com o ponto comum de “Servir Silves”. Tudo isto esbarrou no “fraquinho” líder do PS Algarve, um politico amorfo e conservador para quem o mais importante é não fazer ondas, de modo a manter imaculadas as suas hipóteses de sair daqui, de se ver livre da província, e ir para Lisboa procurar um cargo de administrador de qualquer coisa. A forma como este senhor lidou com este caso é prova disso, prometendo simultaneamente a Carneiro Jacinto e a Lisete Romão o lugar de candidato e conseguindo no entretanto reeleger-se responsável máximo do PS Algarve sem “ondas” nem inconvenientes… um político de “mão cheia”, no pior sentido do termo.
Estou absolutamente convencido de que aquelas pessoas e aquele líder (falo de Carneiro Jacinto e da sua equipa) estariam à altura do desafio e iriam mudar o panorama de Silves, só que a vontade de mudar era muita e a experiência nos “imundos” jogos políticos locais era pouca e assim sendo fica tudo na mesma. Daqui a menos de um ano contem comigo aqui para “pedir a cabeça” dos derrotados e responsabilizá-los por mais 4 de anos de atraso. Comigo – que sempre acreditei que esta presidente era “derrotável” pelas pessoas certas - e com mais umas dezenas que andam por ai escondidos e resignados. Não podemos esquecer que depois deste mandato a Dra. Isabel Soares sairá de cena e com isso aparecerão candidatos a líderes partidários do PS e do PCP “às resmas”, convencidos de que o PSD local anda a “dormir” e não apresentará em 2013 gente capaz e séria (que tem nos “bastidores” da concelhia, ao contrário dos outros partidos, em quantidade e em juventude) para fazer esquecer esta verdadeira “enciclopédia” negra da nossa história.
Resta-me desejar um bom natal a todos os leitores do “Terra Ruiva”, esquecendo “cores”, “credos” e “gostos”… lembrando apenas que somos todos “filhos deste concelho” e queremos o melhor para ele, mesmo que às vezes não pareça ou que as técnicas utilizadas não resultem. Feliz Natal!
In: Jornal "Terra Ruiva" - Dezembro de 2008