Messines está a “definhar”?! Aqui está uma boa pergunta, que me tem atormentado nos últimos tempos. A princípio comecei por dizer que não, socorrendo-me dos indicadores demográficos, mas aos poucos fui compreendendo o verdadeiro alcance da questão e agora acho que é uma real e assustadora ameaça.
Temos assistido, numa tendência que é global, à morte lenta do comércio local da vila. Muitos dos espaços comerciais que ainda estão abertos sobrevivem, com imensas dificuldades, porque os seus proprietários sabem que, fechando a porta, nada mais haverá a fazer por cá. Um ou outro negócio vinga, mas a maioria não consegue competir com o efeito “ralo de banheira” que os Centros Comerciais exercem sobre tudo o que existe em volta. Alcantarilha e Guia vão ter mais dois centros comerciais de grande dimensão e em Loulé o IKEA promete “secar” de vez um sector já demasiado exposto, como é o do mobiliário.
Apesar de não ser um ideia agradável ver Messines tornar-se num dormitório do desenvolvimento litoral, confesso que ainda consigo viver melhor com essa ideia do que com a de ver a vila “definhar” até se tornar em apenas mais uma localidade do interior algarvio. Presentemente o trabalho para os messinenses está fora de Messines. Diria que bem mais de metade trabalham fora do concelho. Seguramente a Câmara Municipal de Silves terá estes dados e é por isso que, conseguindo compreender a falta de ideias e de soluções para criar novo ânimo na vila, não entendo porque razão não se investe em dar a todas estas pessoas, que saem da vila pela manhã e voltam ao fim do dia, condições para que o façam com dignidade e o mínimo de conforto.

O “terminal rodoviário” local – onde todos os dias centenas de pessoas passam – resume-se a uma cabine de chapa, igualzinha à de qualquer paragem de beira de estrada no mais recôndito sítio. Talvez seja por isso os expressos nem por lá parem e optem por apanhar os passageiros em frente à praça. O acesso à estação de comboios é uma “vergonha” e faz com que um grande número de pessoas nem sequer considere essa possibilidade para se deslocar. Dir-me-ão que a responsabilidade pelos utentes dos caminhos-de-ferro é da Refer, eu contraponho dizendo que a responsabilidade de tornar os munícipes possíveis utentes dos comboios é da autarquia. Ainda no campo da mobilidade temos a estrada Messines – Algoz, uma aventura diária para quem tem que a fazer. Ali, ao ultrapassar um camião, sentimos a mesma “adrenalina” que o Carlos Sousa na mais difícil prova do Dakar. Bermas “suicidas”, total ausência de espaço para peões, ausência de sinalização no pavimento são apenas alguns dos ingredientes, mas existem muitos mais. Se é ponto assente que para causar um grave acidente é necessária a conjugação de vários factores, eu afirmo que naquela estrada eles “conjugam-se” diariamente.

Não podemos continuar a fingir que Silves é igual, e tem os mesmos problemas e desafios, a Albufeira, Loulé ou Portimão. Não podemos continuar a investir dinheiro que não temos a tentar “ficar parecidos” com esses concelhos sem antes resolver os problemas graves que temos em mãos. Não podemos continuar a “comprar” este discurso demagógico e hilariante que tem dizimado as esperanças no futuro de cada freguesia. Em Armação de Pêra, por exemplo, esta actual questão do apoio de praia no meio do areal veio por a nu 12 anos de “gula” e “exploração” camarária que deixaram Armação a parecer “Gotham City” (apenas falta o Batman pendurado no topo das “Torres Iberus”). A praia, que é a grande mais-valia daquela freguesia, tem sido mal tratada, ano após ano, chegando ao ponto de ser a única da região que não se qualifica para receber a Bandeira Azul, os habitantes tem sido privados de equipamentos que já mereciam (quer pelo número, quer pelo facto se ser aquela freguesia a financiar em grande parte a CMS) e completamente esquecidos, a freguesia contínua a ser um mau exemplo de planeamento urbanístico… o concelho é, ele próprio e no seu todo, um péssimo exemplo de tudo. Será que não é altura de por termo a isto?
In. Jornal "Terra Ruiva" - Junho de 2009