A revista Única – parte integrante do Jornal Expresso – do passado fim-de-semana trazia, na rubrica “Portugal a pé”, um relato de Silves que arrepia pela forma como relata a realidade da cidade e do concelho. Da cidade apenas a estória da história, contada em menos de um parágrafo, não nos leva para a crua realidade.
O resto do artigo fala em barbearias degradadas, tascas perdidas, nas cavalariças da GNR e no telhado da Sé. Seria um artigo cheio de interesse e nostalgia se, como acontece noutras cidades, estas fossem as excepções. Fossem apenas bocados da história que resistiam ao avanço da civilização. Mas não, esta é a realidade da cidade. É com isto que os silvenses convivem todos os dias.
Há poucos meses um importante gestor da nossa praça, administrador de uma empresa com sucursais em todo o país e habituado a calcar Portugal de lés-a-lés, dizia-me ao passar por Messines: “Não sei por quê mas a impressão que tenho quando entro neste concelho é que está sujo e velho.” – fui obrigado a acenar com a cabeça, concordando. Junto a estas as palavras de um Arquitecto da capital que me disse dias após assistir a uma Assembleia Municipal da Câmara de Silves: “Aquela senhora na minha terra nem ganharia uma Junta de Freguesia.” – Julgo que os dois juntos apontaram o problema e a causa de forma bastante clara.
Tirando Alcoutim, que ainda tem um “tesouro” imenso e quase virgem chamado Guadiana a dar-lhe esperanças de vencer a desertificação, não conheço nenhum outro concelho do Algarve que tenha, em tão pouco tempo, dado cabo de tanta riqueza, de tanto património natural e histórico ao mesmo tempo que descaracterizava a jóia da coroa de forma irreversível. Somos um concelho de “barbeiros” rezingões e de “taberneiros” resignados, é preciso admiti-lo. Mas é também preciso saber quem nos conduziu até aqui, quem traçou este plano de desenvolvimento e quem assistiu impávido a tudo sem nada fazer. Temos que procurar saber como estavam à 10 anos essas pessoas e como estão agora. O que terá mudado para essa gente nesta década e o que mudou para nós?!