Dia após dia as previsões de "catástrofe" económica em Portugal sucedem-se. Seja o FMI, a OCDE, a União Europeia ou qualquer instituição privada a divulgar o estudo, o resultado é sempre mais umas décimas a "sumir" aos já negativos números que o governo nos dá.
Há, contudo, um dado que eu duvido que esteja a ser contabilizado nesses estudos e que fará toda a diferença a nosso favor: 3 eleições em 2009!
"Que dizes tu, Paulito?! Insinuas que os melhores economistas e analistas do Mundo não equacionam todos esses dados?!" Pois insinuo.
Duvido que entre os dados que pedem aos Bancos Centrais, às Comissões de Valores Mobiliários e aos Governos se encontre esta questão:
"Quantas eleições, e quais, vão decorrer este ano?" Mesmo que a façam será impossível quantificar o impacto de tal cenário numa economia, até porque nos "países desenvolvidos" há regras que impedem os "picos de investimento" em ano de eleições.
Ano de autárquicas e de legislativas (até podemos pôr de parte as
Europeias) é ano de "rapar o tacho"... de gastar o que se tem e o que não se tem para "perpetuar a liderança", para agradar aos "otários", para prometer mais uns empregos às "jôtas", para chegar ao "red-line"
do endividamento... Tenho quase a certeza que ninguém contabilizou isto e que no final de 2009 o desempenho da economia portuguesa vai ser destaque nas "magazines económicas" da Velha Europa: "O Modelo Luso", "Portugal passa ao lado da crise", "Dobrar as Tormentas", "Um povo com fibra"... serão títulos do "Le Fígaro", "De Telegraaph", "El Pais" e "The Sun"... respectivamente.
Seria assim se o "rapar do tacho" resolvesse alguma coisa. O problema é que apenas vamos adiar a situação e torná-la muito pior nos anos que se seguem. O exemplo local é soberano: a Câmara Municipal de Silves anunciou há tempos um empréstimo de 15 milhões de euros para pagar dívidas a fornecedores. Este empréstimo, só possível graças a uma nova lei do governo destinada a injectar dinheiro na economia, veio salvar a campanha eleitoral da Dra. Isabel Soares e permitir-lhe convencer alguns empreiteiros a aceitar trabalhar em "passo de corrida". Em declarações públicas a nossa presidente de câmara disse que a Câmara tinha ainda uma capacidade de endividamento confortável, não havendo portanto razões para alarme.
Ora eu desconfio um "bocadinho" da "posição confortável" de uma Câmara Municipal que leva, em média, 3 anos para pagar aos fornecedores e que tem, só em salários e encargos com pessoal, mais a pagar por ano do que a parte que lhe cabe do Orçamento de Estado. Já nem discuto se a duplicação de pessoal que este executivo trouxe ao município é necessária, apenas me parece que reside ai a razão de sermos dos municípios com taxas e impostos mais caras e sem nenhuma espécie de apoio social ou incentivo à fixação de pessoas. Sou defensor das "jôtas" (sejam elas de que partido forem) e da participação dos jovens na cena política... não me parece é que a melhor solução para a mobilização desses jovens passe por 14 meses de salário anual às custas do erário público.
É incontornável que estamos em crise e muitas câmaras municipais têm já em funcionamento estratégias de apoio aos munícipes e de combate à crise. As que não estão a aplicá-las têm, pelo menos, planos para vir a fazê-lo. Termino por isso com um excerto do Blogue "Servir Silves" onde se transcreve a alegada resposta da Dra. Isabel Soares a um membro da oposição, que queria saber qual o plano de combate à crise da CMS: -"Não temos plano nenhum; as situações serão equacionadas conforme vão aparecendo". - Ora cá está... tal como eu pensava. Pelo menos mentirosa a nossa presidente não é. Desconfio que, à semelhança da crise, vai para uns 10 anos que não há qualquer plano para este concelho. O último de que me lembro era fazer de Silves a Sevilha do Algarve… dai para cá as situações são equacionadas à medida que aparecem.
In. Jornal "Terra Ruiva" - Fevereiro de 2009