Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]





Comentários recentes

  • Anónimo

    Tem o PDF do livro?

  • Anónimo

    mais um profeta da desgraça

  • António Duarte

    Para Marinho Pinto chegar a uns 15% não precisará ...

  • António Duarte

    Fico satisfeito por ver que o rapaz ainda está viv...

  • Raposo

    O que eu gostei mais da entrevista foi de saber a ...





A fábrica

25.07.10

Keynes, um dos maiores economistas da modernidade e pai da escola keynesiana, tem uma expressão da qual eu gosto particularmente: “Quando os factos mudam, eu mudo de opinião. E o senhor, faz o quê?!”Na realidade mudar de opinião consoante a conjuntura pode ser uma qualidade política e não um defeito, como certos líricos querem fazer crer. São mais do que conhecidos os exemplos à escala nacional mas também os há na esfera autárquica.

Vem isto a propósito da nossa autarquia e da sua presidente, Dra. Isabel Soares, que vê na mudança um sinal de fraqueza e como tal mantém o “rumo” (leia-se opinião) mesmo que isso nos conduza ao abismo. Alguns chamam-lhe coerência, eu chamo-lhe irresponsabilidade… (há quem lhe chame ainda coisas piores).

Numa análise mais atenta às “grandes obras” deste executivo será fácil concluir que metade foi mal planeada e a outra metade chegou tarde ou não chegou a ser concluída. Temos o Teatro Mascarenhas Gregório, que abriu e fechou no dia da inauguração. Temos a Estalagem/Museu do Azeite em São Marcos da Serra, cuja obra já parou por falta de dinheiro. Temos o Museu do Trajo em Messines, que ninguém visita nem se percebe bem porque existe. Temos o Apoio de Praia em Armação de Pêra, que teve o dom de unir os armacenenses em torno de uma causa comum. Temos rotundas feitas onde não eram precisas, outras que são precisas e não são feitas. Temos a Fábrica do Inglês sistematicamente requisitada para eventos que seriam por natureza melhor realizados na abandonada FISSUL. Enfim… apenas as piscinas municipais me parecem uma obra consensual, positiva e construída em tempo útil.

Prepara-se o executivo PSD, com o suposto apoio “contra-natura” da CDU, para comprar os terrenos da antiga Fábrica do Tomate, a poucos quilómetros de Silves, na EN 124, com o pretexto de ali instalar e concentrar todos os serviços camarários. Nobre ideia essa de colocar num único espaço todos os serviços e com isso diminuir custos e aumentar a satisfação das pessoas. É uma ideia quase tão boa como a “de acabar com a fome no mundo”. Quando se falou nela pela primeira vez, ainda no tempo das “vacas-gordas”, confesso que colheu a minha simpatia. Nessa altura ainda não se conheciam valores nem implicações da compra e, apesar do estado das finanças locais não ser famoso, a medida poderia trazer a remota possibilidade de uma poupança (apesar de nós sabermos que poupar em política nunca significa gastar menos dinheiro).

Ora num cenário de crise económica sem fim à vista, com o Governo a sacrificar como nunca os contribuintes, com o desemprego a bater recordes e os subsídios a escassear, com as receitas fiscais do concelho a emagrecer de mês para mês, com a própria autarquia a cobrar taxas e impostos municipais despropositados face ao cobrado nos concelhos vizinhos, com uma dívida a fornecedores que ascende já os 9.000.000,00 de Euros (1 ano após 15.000.000,00 de Euros terem vindo do Terreiro do Paço para pagar dívidas antigas, algumas com mais de 600 dias)… a gestão PSD propõe comprar a Fábrica do Tomate por 1.940.000,00 Euros e gastar depois cerca de 200.000,00 Euros a colocá-la apta para o fim a que se destina! Isto é algo que não consigo compreender.

Desde logo porque a “Ideia” da concentração pode seguramente esperar pela retoma e por tempos mais desafogados nas contas municipais. Depois porque com essa quantia são inúmeros os terrenos e espaços que se podem comprar e adaptar ao efeito. Convêm não esquecer que a sangria de empresas e comércio para a “beira da EN 125” vai deixar muito espaço abandonado no interior do concelho e que os valores do imobiliário tendem a desvalorizar muito mais nessa zona. Finalmente porque ninguém de bom senso acreditará que com 200.000,00 Euros se consiga transformar tamanha área de armazéns em algo que não seja… a mesma área de armazéns pintada e sem mato ao redor. Terão que me explicar como farão esse milagre de conseguir centralizar ali todos os serviços da autarquia, criar condições para que pessoas ali trabalhem e desactivar todos os espaços que actualmente se encontram dispersos com… 200.000 Euros! Cheira-me que esta história da Fábrica do Tomate será o nosso Centro Cultural de Belém e que o valor da operacionalidade do espaço ultrapassará em muito o valor da sua aquisição.

Se fossemos uma câmara “rica” faria sentido comprar nesta altura, aproveitando a baixa de preços no imobiliário, depois esperar por melhores tempos e vender os edifícios e terrenos dispersos. Com o dinheiro obtido nessa venda certamente se financiaria a construção de um espaço novo e pensado de raiz para a centralização de serviços. Como somos uma câmara “falida” o que acontecerá é que vamos comprar caro, pagar ainda mais caro pelo dinheiro que iremos usar para comprar, venderemos com urgência e mal o património disperso (com “a cabeça no cepo” como se diz), pagaremos uma fortuna pela transferência de serviços e adaptação de um espaço velho e inadequado a outro fim, assistiremos a um atirar de responsabilidades entre as diversas forças politicas quando a coisa der para o torto e no final haveremos de ficar, nós os contribuintes, com o “menino nos braços” e mais uma conta por pagar.

Era bom que o PSD utilizasse para si, em Silves, a mesma prudência e responsabilidade que recomendou ao Governo no novo aeroporto e TGV. Era bom que a CDU se lembrasse que fez do ataque ao modelo de gestão de Isabel Soares uma bandeira enquanto foi verdadeira oposição. Era bom que o PS se deixasse de rodeios e de “discursos politicamente correctos” e assumisse de uma vez que é contra este negócio. Era bom que a crise passasse… mas enquanto não passa o óptimo seria que fizéssemos como Keynes.

 

In: Terra Ruiva - Junho de 2010


 

 

PS. É justo dizer que, ao contrário do que corria pelos bastidores da política concelhia, a CDU votou contra a proposta de aquisição da Fábrica do Tomate. Em comunicado o PCP esclareceu a população. Tudo não terá passado de um "boato" que poderia ter sido evitado se alguém daquela força política tivesse falado em tempo oportuno. (Actualizado em 26/07/2010)

Autoria e outros dados (tags, etc)


3 comentários

Imagem de perfil

De José Paulo de Sousa a 27.07.2010 às 16:34

meninos e meninas :)

portem-se bem ...

havia um sabio que dizia enquanto "os meus inimigos se degladiarem as minhas posições vão ser sempre vencedoras"

com tempo pode ser que se entendam, mas acho que aí será tarde de mais... :)

Comentar post





Comentários recentes

  • Anónimo

    Tem o PDF do livro?

  • Anónimo

    mais um profeta da desgraça

  • António Duarte

    Para Marinho Pinto chegar a uns 15% não precisará ...

  • António Duarte

    Fico satisfeito por ver que o rapaz ainda está viv...

  • Raposo

    O que eu gostei mais da entrevista foi de saber a ...