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Blog de discussão política do concelho de Silves. - "Porque um concelho que exige mais dos seus políticos, tem melhores políticas e é um melhor concelho."
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mais um profeta da desgraça
Para Marinho Pinto chegar a uns 15% não precisará ...
Fico satisfeito por ver que o rapaz ainda está viv...
O que eu gostei mais da entrevista foi de saber a ...
Contra ventos, marés e pessimismo
Nenhum sector escapará incólume à maior crise financeira que a Europa já enfrentou, mas muitos encontrarão nestes tempos a oportunidade de se reinventarem e operar mudanças há muito adiadas. O mundo do associativismo é sempre um exemplo de dedicação, coragem e amor pela terra capaz de despertar consciências e de levar os ventos de mudança a toda a sociedade.
No caso concreto do associativismo desportivo o actual contexto económico trouxe aquilo a que se pode chamar a “tempestade perfeita”. A subsistência destas associações dependia em grande parte de subsídios estatais ou municipais, quotização dos seus associados, patrocínios de empresas e rendas. Em todas essas rubricas as quebras têm sido uma realidade e nenhum sinal augura que as coisas melhorem. Por estes tempos quem dirige e toma decisões assume o papel que se pode comparar ao de uma tripulação que viu o seu avião perder os motores. Não há espaço para erros.
Procuramos conhecer a realidade dos 4 maiores clubes do concelho e perceber quais os problemas, as soluções e os projectos que têm. O que encontramos foi gente empenhada em ultrapassar as dificuldades mantendo os pés no chão. Sosseguem pois todos aqueles que aos fins-de-semana rumam aos recintos desportivos do concelho. 2011/2012 será um bom ano de futebol no concelho de Silves.
Veja nos "posts" abaixo os textos publicados na edição de Julho do jornal Terra Ruiva, da minha autoria a pedido da nossa estimada directora Paula Bravo.
Textos da minha autoria publicados na última edição do Terra Ruiva. O meu agradecimento aos responsáveis pelo Serrano FC.
Avançar devagar e sem riscos
Longe da vista, longe do coração. A aldeia de São Marcos da Serra está entregue a si própria desde há muito. A escassez de empregos, o envelhecimento da população, a migração dos jovens, as escassas perspectivas de futuro… nenhuma novidade para quem vive na freguesia serrana. Mas apesar de tantos reveses ainda existem na aldeia motivos de orgulho e de esperança. A barragem, que brevemente chegará às portas da aldeia é um dos motivos de esperança, o Serrano Futebol Clube é um dos motivos de orgulho.
A “carapinha” de esteva que tem no símbolo remonta ao ano de 1981, o ano em que oficialmente o Serrano foi fundado. Mas muito antes disso, em 1936 já o clube dava os primeiros passos. Dos 4 clubes visados nesta reportagem o Serrano FC é sem dúvida aquele que enfrenta mais tranquilo os desafios que o futuro próximo trará. O bom senso, o pragmatismo e a dedicação que os seus dirigentes têm revelado desde há muito fizeram escola. Em Maio passado a direcção mudou. O presidente Alfredo Matias foi substituído no cargo por José Manuel Cabrita. Dois homens de gerações diferentes, de estilos diferentes mas que dão ao clube e à freguesia a garantia de que o Serrano manterá a sua matriz de responsabilidade e perseverança.
É extraordinário o espírito de comunidade da aldeia. Vivem com o que têm e procuram contribuir todos para que a interioridade custe menos. Isso reflecte-se também no associativismo, o clube é de futebol mas o futebol nem parece ser o mais importante para dirigentes e adeptos. É um facto que os jogos são apreciados por todos, não tanto pelo espectáculo mas pelo convívio que proporcionam. Com o pretexto da bola a cada 15 dias juntam-se no Estádio Municipal amigos que a vida separou, coloca-se a conversa em dia, recordam-se outros tempos. Festejam-se os golos, mas nem todos sabem o nome de quem marcou. Falta a juventude e o entusiasmo que sempre carrega com ela. Ao mesmo tempo o Serrano FC vai-se encarregando de manter vivo o nome da aldeia por esse Algarve fora.
Com os seus 8 funcionários o Serrano FC é o principal empregador da freguesia. Isto diz muito da importância que tem para a terra e para os seus quase 300 sócios. No ano passado a actividade desportiva do clube resumia-se ao futebol, onde participou na 2ª Divisão Distrital e terminou no 5º lugar, mas este ano, com a nova direcção, vieram também a Canoagem, o BTT e a aposta nos escalões de formação. Começaram recentemente os treinos de captação de jovens jogadores e a direcção assume o desejo de já esta época lançar as equipas de Benjamins e Infantis.
A época passada acabou bem mas começou mal. A morte de Manuel Guerreiro, o grande responsável por toda a organização do clube, director de décadas, deixou todos “sem saber bem como reagir. As coisas estavam montadas por ele, todos confiavam no seu trabalho e por isso o clube ressentiu-se imenso. Nas primeiras jornadas tudo parecia correr mal mas aos poucos as forças voltaram e a anterior direcção acabou por fazer o melhor que pôde, por muito pouco não subíamos de divisão.”- diz José Manuel Cabrita, o novo presidente.
Por agora os objectivos são claros, como nos diz o novo responsável máximo: “queremos abrir o clube às pessoas. Incorporamos o BTT e a Canoagem, lançamos a escola de futebol para os miúdos e queremos que as portas da nossa sede estejam sempre abertas. Temos uma sede própria. A maior parte dos clubes não tem uma sede própria.” Quando o assunto é o futebol sénior o pragmatismo da actual direcção vem à tona, “se tivermos transportes escolares há futebol sénior, se não tivermos transportes escolares não há futebol sénior. Tem que ser assim, não podemos colocar em risco o clube por causa do futebol. Por termos abdicado do futebol sénior noutras alturas hoje ainda existimos e não devemos nada a ninguém. Além disso faz parte dos nossos planos acabar com a dependência dos transportes escolares, não podemos ser subsidio-dependentes .”
Apesar de ainda não ser conhecido o resultado do concurso público para os transportes escolares, a direcção do Serrano FC já tem já alguns contactos realizados com vista à próxima época, mas o preço da interioridade também se paga no futebol. “É difícil atrair jogadores para jogar aqui. As distâncias são grandes e o campo não ajuda nada. Jogamos num pelado. Quase nenhuma equipa joga em campo pelado no Algarve. Estamos à espera que se cumpra a promessa de um campo relvado feita pela Câmara Municipal, neste momento se tivéssemos relva tínhamos o único campo do concelho com as medidas oficiais.” Desportivamente, se vierem a avançar, a ideia “é lutar pelos lugares de cima. Teremos uma equipa renovada e com custos mais baixos mas com qualidade para poder ambicionar a uma subida de divisão, afinal o que se gasta na 2ª Distrital é praticamente o mesmo que se gasta na 1ª Distrital mas as receitas são melhores e é mais fácil atrair jogadores de qualidade.”
Habituados a viver com pouco, os dirigentes do Serrano FC não se queixam muito da crise. Pelo contrário agradecem duplamente aos apoios que têm. “A Caixa Agrícola de Messines e São Marcos da Serra é o nosso principal patrocinador, a Junta de Freguesia também contribui voluntariamente com o que pode mas não gostamos muito de pedir a ninguém. Não queremos estar dependentes de subsídios para manter o clube em funcionamento. Temos que usar soluções imaginativas. Abrimos um ginásio na sede do clube que colocamos à disposição dos cidadãos mediante o pagamento de uma quota, estamos a pensar num departamento de fisioterapia, em massagens e numa parceria que nos permita trazer algumas medicinas alternativas e produtos naturais para São Marcos. Além disso já organizamos as festas de verão, temos um salão onde poderão ocorrer festas, eventos culturais e onde já se realizam aulas de ginástica para os mais idosos. Haveremos de implementar muitas outras coisas.”
José Manuel Cabrita conta com elementos nos novos corpos sociais que já estavam no clube mas agradece a todos os que por lá passaram e saíram. Especialmente ao anterior presidente, Alfredo Matias, de quem diz “ter sido incansável a defender o clube e a lidar com a difícil situação do desaparecimento de Manuel Guerreiro, uma perda imensa para esta terra e para o Serrano FC.”
Situações excepcionais exigem pessoas excepcionais e medidas excepcionais. É com isso em mente que olho para a realidade dos principais clubes desportivos do nosso concelho e rezo para que as pessoas que têm conduzido os nossos destinos acordem a tempo de evitar que Silves FC, UD Messinense, Serrano FC e CF Os Armacenenses desapareçam do “mapa”, levando com eles o desporto já de si escasso no nosso concelho.
É um facto que o modelo de financiamento dos pequenos clubes tem que mudar. Com o tecido empresarial local em tempos de crise aguda não se pode esperar que os apoios surjam ao ritmo a que antes surgiam. As próprias autarquias são, e muito bem, forçadas a fazer reflectir nos apoios que dão a essas instituições os cortes orçamentais e as quebras nas receitas de que foram alvo nos últimos tempos. Pede-se por isso, aos responsáveis políticos locais e aos responsáveis pelos clubes, que encontrem formas de gerar receitas. Tarefa difícil, mas possível.
Não será segredo para ninguém que os transportes escolares são, em grande medida, a tábua de salvação dos clubes. Pessoalmente olho com desconfiança para essa “regra”, que se aplica um pouco por todo o país e que coloca nas mãos de entidades amadoras um “negócio” de grande responsabilidade, que é o de transportar até às escolas as nossas crianças. Concorrendo contra empresas privadas os clubes conseguem, ano após ano, ganhar alguns trajectos que vão garantindo a sua subsistência. Tratando-se de uma responsabilidade camarária é normal que em cada município as condições dos concursos sejam diferentes, o que dificulta a vida aos privados e dá boas hipóteses a quem conhece melhor a realidade local por nela viver.
No ano passado, por vicissitudes várias, o Silves FC ficou sem qualquer trajecto e entrou na agonia, que se arrastou durante toda a época desportiva, com uma das principais fontes de receita a secar sem que alternativas tivessem sido apresentadas em tempo útil. Este ano teme-se que o mesmo possa acontecer aos 4 principais clubes do concelho. Considero que a Câmara Municipal de Silves poderá ter um papel determinante no desfecho desta “novela”, assumindo a responsabilidade de tomar as tais medidas excepcionais que estes dias exigem.
Sabemos que mais de 1.000.000 de euros do orçamento municipal serão destinados aos transportes escolares. Esse dinheiro sairá sempre dos cofres da autarquia. Bastaria que a CMS, à semelhança do que fazem muitas outras câmaras por esse país fora, tivesse a boa vontade de criar condições para que os clubes garantissem os trajectos de que precisam para sobreviver. É que, ao contrário das grandes empresas da área dos transportes, os clubes contratam motoristas da terra, utilizam carrinhas compradas na terra, abastecem nos postos de combustível da terra, fazem as reparações nas oficinas da terra, compram pneus aos empresários da terra e gastam os lucros em prol da terra.
Um pouco de boa vontade política e as tais medidas excepcionais que estes tempos exigem é quanto basta para dar aos nossos clubes o balão de oxigénio que precisam para ultrapassar os tempos difíceis que se avizinham. Largas centenas de crianças, jovens e adultos poderão continuar a praticar desporto, enquanto muitos outros poderão ter alternativa aos Shoppings ou ao sofá nas tardes de fim-de-semana. Será preciso mais legitimidade para agir já do que aquela que o interesse de todo um concelho confere? Eu acho que não.
In. Jornal Terra Ruiva - Junho de 2011
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